O futebol e seu mundinho dão uma pequena mostra da polarização de tudo no Brasil, da política do DF aos problemas do síndico para resolver a divisão das garagens no prédio. Não há consenso de nada e todos se sentem enganados nas mínimas discussões. Há pouco mais de um mês, estive com a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, a convite dela para uma entrevista na sede de sua empresa sobre as coisas do clube.

Na nossa conversa, agradável e com um bom cafezinho, ele me disse que a Liga, depois batizada de Libra (Liga Brasileira), caminhava a todo vapor, com a união dos quatro times grandes de São Paulo e mais o Flamengo, além de outras equipes vindas a reboque com a mesma valorização.

Do jeito e com o entusiasmo que ela me falou, parecia que a Liga era questão de tempo para sair do papel e mudar a estrutura do futebol brasileiro. Não entendi aquele entusiasmo de Leila como um blefe. Era assim que ela sentia toda a discussão sobre o assunto com seus pares, uma ajeitada aqui, outra ali, e a Liga seria regulamentada.

Ocorre que depois de nossa conversa, 25 clubes entre os 40 das Séries A e B deram para trás, ou nunca estiveram a fim de dar as mãos aos outros 13 que desenharam a formatação da nova entidade reguladora dos direitos de TV dos campeonatos nacionais, como Brasilerião e Copa do Brasil, por exemplo.

Ora, num Brasil onde tudo é polarizado pelo ódio, sem que nenhuma das partes se entusiasme em dar o braço a torcer por nada, faltou malícia para os heads negociarem melhor as leis da nova regulamentação financeira do futebol. Os dissidentes entendem que juntos, podem ser mais fortes, mesmo que sem os grandes de São Paulo e do Rio, por exemplo.

O futebol brasileiro dos presidentes populistas e defensores de suas bandeiras acima do próprio jogo de futebol nunca vai mudar, a não ser que antes mesmo das discussões para tudo, todos eles ganhem algum dinheiro, cota, premiação ou algo parecido. Só assim eles vão se sentar à mesa e ouvir o colega, as propostas ofertadas e tentar fazer a coisa andar. Essa mesma dissidência que se vê na criação da Liga foi verificada quando os clubes se dividiram entre Globo e TNT Sports, duas empresas idôneas e responsáveis, para a transmissãos dos jogos anos atrás. A ganância falou mais alto e todos achavam que poderiam ganhar mais dinheiro.

Os dirigentes são incapazes de olhar metros a frente do nariz, de entender que se os torneios forem mais fortes, os clubes também o serão, de modo a ganharem mais dinheiro, que é a única coisa que estão verdadeiramente de olho. Estão sempre achando que estão sendo passados para trás. São conhecedores do mundo em que vivem.

O fato é que nossos remadores no futebol remam cada um para um lado, de modo a nunca sair do lugar ou girar feito bobo. Estamos na estaca zero em relação à Liga, como já estivemos desde a implosão do Clube dos 13, em 2011. Estar na estaca zero significa que o dinheiro dos clubes continua pingando a conta gotas e desaparecendo como a água na torneira aberta da pia da cozinha. Assim, o cenário é como ele sempre foi: precário. Não há solução. É preciso muita costura para fechar esse balão.

E assim vamos tratando a maior paixão do povo brasileiro, o futebol, que como o Brasil está sem comando, sem controle e nas mãos de gente despreparada. É claro que nem todos são assim. Há boas histórias aqui e ali, mas o barco continua sem rumo, pronto para naufragar.

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