Encontrei na manhã desta quarta-feira no Football Tweet uma declaração atribuída ao técnico Carlo Ancelotti sobre Kaká, quando o jogador brasileiro desembarcou na Itália vindo do São Paulo para jogar no Milan. Ancelotti comandou aquela equipe. Numa tradução literal, o texto dizia o seguinte:

Kaká pousou no aeroporto de Malpensa e eu coloquei a cabeça nas mãos: óculos, cabelo perfeitamente penteado, rosto de bom menino. Só lhe faltavam livros escolares e um lanche. Meu Deus, contratamos um estudante universitário. Kaká não se parecia em nada com um jogador de futebol brasileiro, ele me lembrava uma Testemunha de Jeová. Aí ele entrou em campo ainda com jet lag e tudo: o céu se abriu. Com a bola nos pés ele era monstruoso. Parei de falar simplesmente porque estava sem palavras. Nem sequer existiam palavras para o que eu estava vendo. A Testemunha de Jeová era na verdade alguém que falava diretamente com Deus. Em seu primeiro desafio nos treinos, Kaká se viu na frente de Gattuso, que lhe deu uma terrível ombrada, mas Kaká nem perdeu a bola. Depois, após ficar com a bola, Kaká fez um passe de 30 jardas, pegando de surpresa até Nesta, que não conseguiu interceptar. Ao final de cada treinamento, o CEO do Milan, Adriano Galliani e eu sempre conversávamos ao telefone para que eu pudesse contar a ele o que estava acontecendo e depois ouvir o que ele pensava. Naquele dia liguei para ele: ‘Senhor Galliani, tenho uma novidade para você’. ‘Boa ou ruim?’ ‘Boa. Muito boa’. ‘Carletto, você está pedindo demissão?’ ‘Não, vou ficar porque acabamos de assinar com um fenômeno’.

Kaká festeja gol com a camisa do São Paulo, clube que o revelou para o mundo / São Paulo FC

Assim teria sido o relato de Ancelotti ao CEO do Milan quando Kaká chegou em 2003. Kaká precisou de um tempo para se adaptar e colher os frutos. Por que escrevo sobre Kaká e Ancelotti? Porque Carlo Ancelotti faz história no Real Madrid e anunciou que pretende encerrar sua carreira com mais uma conquista de Champions League. Ele e seu time disputam a final da competição de clubes mais importante do mundo neste sábado, em Londres, contra o Borussia Dortmund, rival da Alemanha. Se o Real Madrid ganhar em jogo único, vai festejar a taça 15 da competição. O mundo esportivo vai parar para ver a partida.

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Depois daquele seu período no Milan, o treinador italiano continuou armando bons times e se deliciando com jogadores brasileiros. Nesta temporada na Europa, ele falou mais de uma vez que Vinícius Júnior é o melhor jogador do mundo. Pena que o brasileiro não está na seleção dos melhores de LaLiga, mas talvez seu nome não tenha entrado por outros motivos. O brasileiro sofre racismo na Espanha e expôs a intolerância dos espanhóis no futebol com pretos como ele. Ancelotti também se rendeu ao talento de Rodrygo e agora está prestes a receber Endrick para ser seu camisa 9.

O melhor do mundo

Vinícius Júnior também poderia recolocar o Brasil no topo dos melhores jogadores do mundo. A última vez que isso aconteceu foi com Kaká, naquele Milan montado por Ancelotti. Kaká foi eleito em 2007 e nunca mais o Brasil teve um representante em primeiro lugar. Neymar foi quem mais perto chegou desse pódio, ficando em terceiro em duas ocasiões antes de “largar a mão” e andar por caminhos tortos no futebol.

Real Madrid posa para foto após renovar seu contrato com o Real Madrid até 2027 / Real Madrid

Kaká e Vini são jogadores completamente diferentes no tempo, no futebol e no jeito de jogar. O atacante do Real Madrid é mais driblador. Kaká, que também vestiu a camisa do clube de Madri e foi campeão do mundo, era um condutor de bola em arrancadas pelo meio e em direção ao gol. Chutava de longe e fazia passes magistrais, conforme atestou Ancelotti. Vini é fera no um contra um. É jogador para abrir defesas pela esquerda, principalmente.

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Copa América e Eurocopa

Ele é hoje o brasileiro mais perto de ser eleito o melhor do mundo. Seu Real Madrid ganhou o Campeonato Espanhol e agora tem a chance de festejar mais uma Champions League. Os profissionais que elegem o melhor do mundo da Fifa ainda poderão ver o brasileiro em ação na Copa América, assim como os demais craques do ano na Eurocopa.