O São Paulo aumentou sua dívida de 2022 para 2023 apesar de ter boa receita na última temporada. A dívida é de R$ 666,6 milhões. Era de R$ 586,5 milhões. Acordos trabalhistas com jogadores e treinadores foram feitos, de modo a baixar esse tipo de pendência de R$ 97,7 milhões (em 2022) para R$ 71,5 milhões na temporada passada. O presidente Julio Casares faz o que consegue nesse momento para reduzir as despesas, honrar os compromissos e tentar deixar a casa em ordem. O balanço tem pontos positivos, mas alguns preocupantes. É preciso entender as contas. Hoje, segunda-feira, o time enfrenta o Palmeiras pela quarta rodada do Brasileirão.
A receita bruta de 2023 foi de R$ 669,5 milhões. Não foi suficiente para bancar as contas do ano. O clube não pôde comemorar lucro, uma vez que o déficit no período foi de R$ 62 milhões. É muita coisa. Casares tem de fazer a “máquina” andar melhor. Como? Com economia caseira: gastar menos do que arrecada. O clube deixou de ganhar ou de empatar em alguns itens porque se livrou de parte das dívidas em outros. Só das ações trabalhistas, como mencionei, foram pagos R$ 20 milhões. Isso é bom.
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Mas nessa categoria do balanço há pendências que preocupam e são altas, como o valor que o São Paulo deve para a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). São R$ 24,3 milhões. Certamente esse dinheiro vem da organização do órgão em dias de jogos e shows no MorumBis. O São Paulo deve ainda R$ 10,1 milhões para Daniel Alves. A dívida com o jogador condenado por estupro na Espanha, mas em liberdade no país, era de R$ 20,4 milhões em 2022. Portanto, Casares pagou metade do valor que assumiu em sua gestão. Há ainda outros R$ 4,3 milhões que pertencem a Dinorah Bastos, mulher de Daniel Alves, por intermediar a contratação do jogador na época.

Depois de Daniel, as dívidas mais altas são com o lateral Richarlyson, comentarista da Globo e SporTV, que é de R$ 5,3 milhões; do técnico Dorival Junior, que deixou o comando do time para aceitar convite da CBF na seleção brasileira: R$ 3,1 milhões; e de Rogério Ceni, de R$ 4,1 milhões. O São Paulo estima que seus processos trabalhistas, cíveis e tributários, ainda em andamento, consumam o equivalente a R$ 118 milhões. É muito dinheiro.
DÍVIDA COM CALLERI É ALTA
Alguns pontos chamam a atenção (negativamente) no balanço de 2023. Por exemplo, o São Paulo deve R$ 49,6 milhões de direitos de imagens para seus atletas. Esse valor em 2022 era de R$ 11,3 milhões. A manobra financeira do São Paulo parece apagar alguns incêndios, mas sem “água” suficiente para apagar outros focos no clube. Há uma pendência de “direitos federativos e econômicos” para clubes e atletas que chegam a R$ 57,8 milhões (em 2022 era de R$ 51,7 milhões).
Somente no que se refere ao contrato do atacante argentino Calleri, sobre direitos federativos atrasados, o São Paulo deve R$ 11,3 milhões. Essa dívida já foi maior, de R$ 19,1 milhões. Há algumas outras pendências na relação clube-jogador: Alan Franco (R$ 9,4 milhões), Gabriel Neves (R$ 9 milhões) e Damián Bobadilha (R$ 5,6 milhões).

Um ponto sensível das contas do São Paulo, mas bom do ponto de vista esportivo foi a decisão de vender menos jogadores no período. As receitas com repasses de atletas foram de R$ 109,2 milhões. Em 2022, o clube registrou R$ 221,4 milhões na operação. Mas aqui tem um agravante pesado. O São Paulo deve muito dinheiro para agentes, empresários e clubes que fizeram algum tipo de intermediação na venda de jogadores e dos seus respectivos direitos econômicos. São R$ 80,1 milhões. Essa dívida em 2002 era de R$ 59,6 milhões.
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O sinal de alerta está acionado. A maior pendência é com a Bertolucci Assessoria, do empresário Giuliano Bertolucci: R$ 25,6 milhões. Já foi de R$ 34,5 milhões. Na contramão disso, para a intermediação na aquisição de atletas, a dívida é de R$ 51,9 milhões. Ou seja, o São Paulo deve R$ 130 milhões para empresários.
INVESTIMENTO NA BASE
O São Paulo registrou no balanço de 2023 contrato firmado com 109 jogadores. Boa parte desses atletas vieram da base. Nesse período, o clube investiu R$ 33,8 milhões na formação de garotos em Cotia, onde fica seu centro de treinamento das categorias inferiores. O técnico argentino Luis Zubeldía, se não conheceu Cotia, vai conhecer em breve. Em 2022, a base consumiu R$ 30,3 milhões das receitas do tricolor. Foram profissionalizados 31 jogadores nos últimos 12 meses. Em 2022, a nível de comparação, esse número foi de 11 garotos.
TORCIDA FAZ A SUA PARTE
Outro ponto a se destacar de forma positiva é a participação do torcedor nos jogos do time na temporada passada, quando o São Paulo ganhou a Copa do Brasil e tinha Dorival no comando. A média de público nas partidas foi de R$ 44.580, em 34 jogos, a melhor dos últimos cinco anos. O São Paulo arrastou para o MorumBis 1.515.715 torcedores. Em 2022, esse número foi de 1.245.901. Nos anos anteriores, por causa da pandemia e seus reflexos, esse quesito ficou prejudicado.