Thiago Carpini entrou naquela fase de deixar as coisas arrumadas para não ter muito trabalho quando a notícia da demissão chegar. Essa condição é péssima para um treinador de futebol, mas bastante comum. Lembra a de um boxeador após sofrer alguns golpes fortes no ringue, quando a lona parece o único caminho. Ele pode cair ou revidar. Se revidar, tem ainda a chance de mudar a história da luta. Carpini, por ora, tem as pernas dobradas e está nas cordas após “golpes” da torcida e maus resultados, como o de sábado diante do Fortaleza, em casa, na estreia do Brasileirão 2024 – derrota por 2 a 1 e novas vaias.
Fico sempre na dúvida sobre o tempo que um clube deve esperar para reavaliar seu treinador, no caso de Carpini, um recém-contratado. Tenho comigo que uma temporada inteira, de janeiro e dezembro, seria o mais justo. Mas como o mundo e o futebol estão rápidos demais, as avaliações são cada vez mais curtas e aceleradas. Se ganhar e agradar, o cara presta. Se perder e cometer erros infantis, não presta. Se ganhar e depois perder, como Carpini, ganha sobrevida e passa a viver no fio da navalha.
As SAFs não perdem tempo. Basta tomar por base o que anda fazendo Ronaldo e seu estafe no Cruzeiro desde que eles assumiram o clube por R$ 400 milhões. A propósito, uma fonte me disse que ele tirou do bolso apenas R$ 50 milhões. O restante é dinheiro de movimentação. O São Paulo não é Sociedade Anônima, mas o regime presidencialista do Morumbi tem sido afeito às reavaliações e cruel com seus treinadores. Por isso Carpini está na corda bamba. Seu contrato pode durar até os próximos 90 minutos.
Ele entrou nessa condição depois de derrotas em casa e explicações nada convincentes de resultados e movimentações ruins durante as partidas. O torcedor perdeu a confiança. Não há mais crédito nem paciência.
Uma coisa precisa ficar clara: Carpini sabia onde estava se metendo quando deixou o Juventude para assumir o São Paulo. Se não sabia, deveria ter pesquisado antes de assinar o contrato. Uma volta ao passado não tão distante iria mostrar a ele que dois ídolos do clube foram cobrados e pressionados antes de deixar suas funções. Refiro-me a Raí, então gerente de futebol e que hoje mora na França, e a Rogério Ceni, treinador que comanda atualmente o Bahia.
Se o torcedor colocou para correr dois dos maiores ídolos são-paulinos, imagina o que ele pode fazer diante de qualquer um que não responde a contento. Carpini é a bola da vez. Na boca da caçapa. Para piorar a situação, seu antecessor ganhou a Copa do Brasil e zerou a fila do time em conquistas. Isso sem mencionar o fato de a taça ser de uma competição inédita. Não tivesse ido para a seleção brasileira, Dorival Junior ainda seria técnico do São Paulo e Carpini estaria, provavelmente, no Juventude.
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Os gritos de “burros” se intensificam a cada partida, assim como as derrotas começam a pesar sobre seus ombros. A diretoria garantiu o treinador até quarta-feira, quando o São Paulo visita o Flamengo pela segunda rodada do Brasileirão. Não seria demais supor que uma nova derrota derrubaria o treinador ainda no Maracanã. Ficaria insustentável até mesmo para Muricy Ramalho segurá-lo. O “xis” da questão para o técnico tricolor é saber como ele e seus jogadores podem vencer o grupo de Tite no Rio. O Flamengo é melhor e está mais confiante depois de ganhar o Estadual. Carpini terá 90 minutos para se virar. Ele conta com o elenco para isso e tem alguns dirigentes do seu lado.
Para mudar o jogo de vez, feito um boxeador após sofrer golpes duros, Carpini terá de emplacar uma série de vitórias, de modo a fazer o torcedor se acalmar e entender que ele e o São Paulo podem se acertar ao longo da temporada. Terá de fazer isso de olho na Libertadores e na Copa do Brasil. Se não acontecer, estará sempre na corda bamba até o dia de sua saída. O jogo diante do Flamengo é crucial.
[…] um treinador estrangeiro. Teve o argentino Hernán Crespo e depois apostou em brasileiros. Thiago Carpini fica no cargo até o clube encontrar outro. O treinador também foi “abandonado” pelos jogadores. Ninguém mais corre pelo chefe. […]
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