É preciso analisar com calma e cautela o depoimento de John Textor na CPI do Senado sobre manipulação de resultados no futebol brasileiro. É preciso entender o que está acontecendo após o dono da SAF do Botafogo sair atirando contra tudo e contra todos depois que o seu time perdeu o Brasileirão do ano passado para o Palmeiras, da desafeto Leila Pereira. Os parlamentares entraram no jogo para ouvir, discutir e investigar as possíveis falcatruas delatadas pelo americano da maior paixão do brasileiro, o futebol. O Brasil não se sustentaria sem seu futebol sagrado de todos os dias. Então, vamos tentar entender o que está acontecendo e o que pode acontecer.

John Textor disse que há manipulação no futebol brasileiro e apontou o Palmeiras como o grande beneficiado disso. Ele foi chamado de “idiota” pela presidente Leila Pereira, que comanda o time paulista. Ela disse isso no programa Roda Viva, da TV Cultura. Textor entregou um relatório de 180 páginas feito por inteligência artificial baseado na movimentação regular dos jogadores. Chegou a colocar sob suspeita atletas do São Paulo na goleada sofrida para o Palmeiras por 5 a 0. Fez acusações e disse ter provas. Falou e foi ouvido por mais de quatro horas.

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Os parlamentares da CPI, como Jorge Kajuru e Romário, disseram que há “indícios importantes” nas acusações, ainda sem provas, do dirigente americano. Foi dito ainda que ele esteve em Brasília não para acusar esse ou aquele clube rival, como o Palmeiras, mas para dedurar o que seu relatório de IA entende como ações suspeitas dentro de campo. Em outras palavras, ações irregulares.

Em seu depoimento na CPI, John Textor apresenta relatório de 180 páginas para provar suas acusações / Agência Brasil

As provas, por ora, são apenas as 180 páginas do documento. Os parlamentares sabem que indícios não são provas e que Textor terá de mostrar mais para continuar sendo ouvido. Há a intenção em Brasília de continuar com as investigações. Os parlamentares estão convencidos de que se trata de denúncia que cabe maior apuração. A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) tem força para abrir contas bancárias dos envolvidos nas acusações. Se isso acontecer, como os novos depoimentos, todos estarão na vitrine expostos.

Um outro ponto que precisa ser esclarecido é a possibilidade de John Textor ser processado. Leila pediu o seu banimento do futebol. Isso não vai acontecer, mesmo se o americano for suspenso. Ele é dono de um clube da Série A e tem seus direitos. Mas vai sofrer ações na Justiça do Palmeiras. O relatório de Textor aponta nomes de jogadores e de operadores do VAR. Sua inteligência artificial defende que esses atletas e árbitros tiveram movimentações nada condizentes com o que fazem normalmente. Ou seja, a IA aponta movimentos diferentes dessas pessoas. Na cabeça de Textor, movimentos suspeitos para prejudicar um time em detrimento de outro.

Raphael Veiga cercado por marcadores do Botafogo no Brasileirão de 2023, no Rio: virada histórica / Palmeiras

Isso não serve como prova. Pelo menos não por enquanto. Se todo jogo um jogador atua pelo lado esquerda e em determinada partida ele passa a atuar pela direita, isso caracteriza mudança de movimento. Mas isso não pode ser apontado como prova de irregularidade, levando essa situação para o extremo. O que o relatório de Textor diz é que determinado jogador sempre teve o comportamento de um jeito e em algumas partidas (suspeitas) ele mudou esse comportamento dentro de campo.

Para o dono do Botafogo, isso caracterizaria irregularidade. Como apontou alguns nomes e se esses nomes vazarem, Textor pode ser processado. Ele chegou a dizer que alguns jogadores do São Paulo mostraram comportamento fora do comum contra o Palmeiras. Caso nada se prove contra o clube do Morumbi, Textor estará sujeito a sofrer um processo do clube paulista. Há outros casos nessa mesma condição.

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Mais uma vez, as entidades esportivas, como a CBF, se calam diante das acusações. Certamente a CBF só vai se pronunciar de forma oficial quando a CPI avançar, se avançar. A CBF tem sua própria investigação sobre manipulação de resultados e garante, até hoje, que os jogos do Brasileirão não foram contaminados. Depois das investigações do Ministério Público de Goiás e da punição e prisão dos envolvidos, o assunto esfriou.

O próximo passo da CPI é se debruçar sobre o relatório de 180 páginas de John Textor para tentar entender o padrão mostrado pela inteligência artificial contratada por ele para avaliar o futebol brasileiro. O dirigente americano continua convicto de que suas declarações têm um motivo e ele promete mostrar esses motivos. Apesar das acusações e da CPI, o futebol brasileiro continua sua rotina.

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