É preciso colocar um freio nas declarações de John Textor ou abraçar suas denúncias e investigar até o fim, de modo a comprovar ou não as acusações do dono da SAF do Botafogo sobre manipulação de resultados em favor do Palmeiras no Brasileirão do ano passado. É preciso separar e deixar claro o que é citação leviana do que é fato. “Temos provas pesadas, 100% confirmadas de que o Palmeiras vem sendo beneficiado por manipulação de resultados por pelo menos duas temporadas. Desculpe se isso vai criar barulho, mas tenho provas, vou mandar aos procuradores”, comentou o americano em entrevista ao canal do Medeiros.

Não é a primeira vez que o dirigente do Botafogo acusa o Palmeiras e aponta o dedo para falcatruas no futebol brasileiro, que ele escolheu participar como investidor. Suas provas estão concentradas em relatórios feitos por inteligência artificial. Textor também diz que jogadores do São Paulo tiveram atitudes suspeitas na derrota por 5 a 0 no Campeonato Brasileiro de 2023. O caminho adotado pelo dirigente não é o mais indicado. Ele faz acusações sem mostrar provas. Suas declarações são sustentadas por suposições e indicações de comportamentos suspeitos.

Alguém tem de falar para ele que a banda não toca dessa forma no Brasil, muito menos no seu país, os Estados Unidos. Ele deveria saber disso. O futebol brasileiro já teve de superar falcatruas e armações em um passado recente, como a Máfia da Loteria Esportiva, a Máfia do Apito e a Operação Penalidade Máxima, sobre as apostas esportivas. Portanto, não se pode descartar nenhuma possibilidade pelo passado que condena a modalidade no País, de modo a ser obrigação dos órgãos competentes e da imprensa apurar e investigar as acusações. É preciso, no entanto, trabalhar com fatos, pelos caminhos legais e disponíveis, e nunca por declarações jogadas ao ar, lembrando os tempos do futebol amador sem mando e de seus cartolas escrupulosos.
Leila Pereira e John Textor antes das acusações do americano contra o Palmeiras / Botafogo

É preciso tirar essa conotação de dirigente folclórico de John Textor e vesti-lo com a responsabilidade que ele tem no futebol brasileiro e no Botafogo, um dos grandes do Brasil. Ele é um investidor, endinheirado e sabedor do que pode e não pode falar e fazer. Seu modo “torcedor” é legal, mas ele não deve esquecer quem é e quais são suas obrigações no clube do Rio, assim como saber qual é o peso de suas declarações. O futebol é assunto sério no Brasil.Os órgãos competentes, como CBF e STJD, assim como os clubes envolvidos nas acusações do botafoguense, como Palmeiras, São Paulo e Fortaleza, já se manifestaram contra as declarações do dirigente.

Mas o assunto não pode ficar apenas nisso. Como disse, essas provas prometidas por Textor precisam chegar às mãos dos procuradores o quanto antes. Textor está na Europa. Ele precisa voltar ao Brasil e fazer o que prometeu. Deve ser “convocado”.

O Palmeiras joga na Argentina nesta quarta-feira em partida de estreia do time na Libertadores, contra o San Lorenzo, mesmo com a cabeça na final do Paulistão diante do Santos, no domingo. Mas não se curva às declarações de Textor. “O Palmeiras vem adotando todas as medidas jurídicas cabíveis contra o dono da SAF do Botafogo, John Textor, e não pretende se manifestar novamente sobre a bizarra tentativa do caricato cartola de justificar a perda do título brasileiro de 2023. Confiamos que as autoridades competentes tomarão as providências necessárias com a urgência que o tema exige”, compartilhou o clube presidido por Leila Pereira. Ela está mais do que certa em levar o caso para a Justiça esportiva e criminal.

São Paulo também mostra indignação

Com a mesma indignação, o presidente do São Paulo, Julio Casares, se manifestou em tom de repúdio ao que disse o dono da SAF do Botafogo. Não pretende deixar barato. “O São Paulo Futebol Clube tomou conhecimento e repudia veementemente as graves e infundadas acusações de participação de atletas do elenco tricolor em manipulação de resultado feitas pelo dono da SAF Botafogo. Tal afirmação sem nenhum vestígio de prova ataca a idoneidade de jogadores do elenco profissional masculino e a lisura da instituição São Paulo FC em seus 94 anos de história. O clube já acionou seu departamento jurídico, que estudará e tomará as medidas cabíveis na esfera legal.”

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Mais do que as manifestações dos dois clubes paulistas, já passou da hora de a CBF e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva se manifestar e chamar o dirigente americano para se explicar. Eu sempre defendo que o clube deve pagar por atos de seus dirigentes e torcida, porque parece impossível as entidades esportivas e legais punirem alguém. Textor tem de responder pelas acusações. Não há outro caminho. Ou ele está certo ou ele está errado. Dizer depois que “não era bem isso que quis dizer” já não cabe mais.

Exemplos precisam ser deixados para casos dessa natureza. Imagine o que seria da credibilidade do futebol brasileiro e de suas competições se todos começassem a atacar uns aos outros e a jogar para o torcedor fake news sobre resultados e armações. É preciso, como disse, colocar um freio em Textor e exigir dele todas as provas de seu relatório feito por Inteligência Artificial.

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