Tite não merece ser julgado pelo tribunal das redes sociais e pela nem sempre santa inquisição da crônica esportiva. Nos dois ambientes, vivemos à caça de heróis e vilões, inocentes e culpados, fortes e fracos, vitoriosos e derrotados. Sua súbita decisão de desistir de um compromisso apalavrado horas antes com o Corinthians é uma questão de foro íntimo, que precisa ser respeitada. Simples assim.
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Não há de se fazer conjecturas e tentar adivinhações em busca de teses que possam justificar o frustrado desfecho de uma negociação que parecia sacramentada. Ainda mais diante do corajoso comunicado publicado pelo treinador, através do qual ele expõe publicamente a necessidade, até então desconhecida de todos, de uma “pausa na carreira por tempo indeterminado para cuidar da sua saúde física e mental”.

O que para nós pode sugerir um momento de fraqueza do treinador é, quem sabe, sua maior demonstração de grandeza ao admitir que não está bem e que, por mais que deseje, não deve contrariar o que revelam seus mais íntimos sentimentos. O corpo e a alma falam. E precisamos escutar o que eles querem nos dizer.
Uma decisão difícil
Seguramente não é fácil para um profissional competente, vitorioso, respeitado e independente financeiramente abortar um novo projeto de trabalho nessas condições. “É uma decisão difícil, mas necessária”, resumiu Tite no post publicado na manhã desta terça-feira pelo seu filho, auxiliar e fiel escudeiro Matheus Bacchi.
A verdadeira razão que levou Tite a essa decisão só ele sabe. Ou melhor, talvez nem ele saiba. Essas coisas que nos afligem assim, de repente, no mais das vezes brotam de um vazio existencial onde florescem nossas fraquezas. Por anos controlado, nossos medos e inquietações afloram sem que sobre eles tenhamos controle. A gente vai dormir bem e acorda doente, sem causa aparente. Qual é a razão? Quase ninguém sabe a resposta.
Dores da alma
As dores da alma precisam de tratamento sério e dispensam diagnósticos de quem enxerga o problema alheio com desprezo e falta de conhecimento. Por trás do técnico Tite existe um ser humano.
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Tite dormiu técnico do Corinthians e acordou sem respostas e sem certezas de que este era o caminho que devia seguir. “Entendi que existem momentos em que é preciso compreender que, como ser humano, posso ser vulnerável e admitir isso certamente irá me tornar mais forte”, completa o treinador no comunicado em que anuncia o fim do sonho sonhado na véspera.

A literatura médica pode nos ajudar a entender como se dá esse processo doloroso de admitir vulnerabilidade emocional e física. Pessoas com esse comportamento muitas vezes são confrontadas com uma realidade indesejada a partir de gatilhos que se detonam do nada. Crises de ansiedade e de pânico acometem pessoas aparentemente sãs sem mandar aviso, sem sinais de doença.
Só quem já passou por isso sabe como as coisas acontecem e ao menos entendem com mais normalidade o que pode ter ocorrido com Tite nesse momento em que ia trocar sua pacata vida ao lado da família por um novo turbilhão chamado Corinthians, um clube que já põe no colo de qualquer novo treinador um pacote de bombas relógio prestes a explodir a qualquer sinal de turbulência.
Quando aceitou abrir negociações para discutir as bases do contrato, Tite achou que estava pronto para a missão. Quando precisou bater o martelo e iniciar a jornada, seu corpo emitiu sinais de que essa não era a hora de voltar. E aí não importam as razões, insisto.
Desejamos melhoras a Tite
Assim, é hora de todos respeitarem a decisão do treinador, sem julgá-lo. Sem condená-lo. Mais do que isso, é hora de todos desejarem pronta recuperação ao ser humano Adenor Bacchi. Mesmo os que se sentiram traídos pelo treinador mais uma vez, mesmo os que viram em Tite reiterados traços de ingratidão, mesmo os que são insensíveis aos seus alegados problemas físicos e mentais.
Antes de cuidar do Corinthians, Tite precisa cuidar de si. Nós do The Football lhe desejamos melhoras e pronta recuperação. Que você possa voltar ao convívio daqueles que o admiram e que o criticam o quanto antes – forte outra vez. Se cuida, professor!