Zubeldía pode ser chamado de Rebeldia. O futebol brasileiro está precisando de boas doses de rebeldia dentro e fora de campo. Mas não confundam rebeldia com aquilo que os jogadores do Fluminense fizeram antes de uma partida. Aquilo foi burrice e desrespeito com o treinador Fernando Diniz e com os companheiros de clube. O dicionário (sim, ainda consulto um bom dicionário) diz que rebeldia é o ato de se rebelar, não se conformar, reagir. Foi exatamente isso o que fez o São Paulo na partida pela Libertadores desta quinta-feira diante do Barcelona de Guayaquil, com vitória por 2 a 0, fora de casa.
Ele colocou quatro atacantes juntos para jogar no campo do rival, diga-se, que conhece bem porque já trabalhou lá. Escalou Luciano, Calleri, André Silva e Ferreira. Ele não se conformou, em três dias de trabalho na Barra Funda, que os melhores do setor não possam atuar juntos. Era esse o discussão do Flamengo entre Gabigol e Pedro, que atualmente parece careta demais.
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Zubeldía é um rebelde, que tem amor pelo futebol no mesmo tamanho do seu amor pela família. Ele tratou de se mostrar logo de cara aos torcedores brasileiros e disse que não consegue, nem sabe, diferenciar sua vida pessoal da sua vida profissional. Elas se misturam e ele está feliz dessa forma. Em outras palavras, Zubeldía dará tudo o que pode no Morumbi. Ele traz da Argentina e de suas andanças no futebol a intensidade do jogo e do seu trabalho à beira do gramado. Tomou cartão amarelo aos 14 minutos do jogo em sua estreia. Quer ver essa mesma intensidade dentro de campo.
Opa! Já gostei disso. Os melhores treinadores, por quem sinto estimo respeito, como Pep Guardiola e Abel Ferreira, jogam com intensidade. O técnico português gosta de dizer que seu time “joga com o coração”. Zubeldía é desses, em nível ainda a se provar. Entenda-se, nessa ordem, conquistas e futebol bem jogado, com muitas tramas e moldes de acordo com o adversário e a característica do jogo.
Gosto de treinadores que pilham o time, que mostram caminhos, que valorizam a intensidade do jogo e arriscam. Para que isso aconteça, os “mortos” do elenco precisam ressuscitar. Equipe nenhuma pode ter jogador encostado ou sem vontade. O pulso precisa pulsar, parafraseando Titãs. Não estou falando de qualidade técnica. Refiro-me à vontade, suor, transpiração, correria. Tomara que Zubeldía venha com ideias mais modernas, discursos mais atualizados e menos conformistas, sem mimimi e pedindo para que os jogadores também não tenham frescura.
Tomara também que ele use os atletas no limite e não entre nessa de poupar porque isso está chato pra caramba. Entendo toda a ciência envolvida no futebol. É necessária. Mas vejo treinadores se dobrando para coisas pequenas. Tomara Zubeldía arrisque mais.
Essa parceria passa diretamente pelo elenco tricolor, que não é ruim em nenhum setor do campo. A turma do Reffis tem de acelerar a recuperação doa machucados, se isso for possível. O futebol brasileiro entra numa condição grande de se tornar refém do calendário e da quantidade de jogos. A CBF não vai mudar isso. Esqueçam. Então, os clubes precisam encontrar caminhos e soluções. Assim como o atleta precisa viver mais o futebol, sua profissão, e ter mais intensidade.
Penso ser esse um ponto importante e que precisa ser mudado no futebol brasileiro. O jogador tem de ser mais jogador no sentido de abraçar e vivenciar sua carreira. É preciso gostar do que se faz. E se envolver. Treinar e ir para casa é pouco. Sou do tempo em que os treinadores e jogadores passavam quase que o dia inteiro dentro do CT, trabalhando, almoçando juntos, conversando, falando de futebol e treinando mais. Não sei se precisa tanto, afinal, o mundo mudou. Mas vejo o atleta pouco envolvido com a profissão.
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Essa intensidade que enxergo em Zubeldía pode ser importante para que o São Paulo acelere e recupere o tempo perdido. Há um hiato entre a conquista da Copa do Brasil e da Supercopa que precisa ser fechado. O novo treinador tem muita personalidade. Vem de um país com confiança no futebol após a Copa do Mundo do Catar, conhece as competições sul-americanas e as nacionais. É antenado e fala de forma clara. Se a primeira impressão pode contar alguma coisa no futebol, confesso que fiquei bastante impressionado com a rebeldia de Zubeldía. Mas ainda é uma primeira impressão.